O SENTIMENTO E O ANALFABETISMO FUNCIONAL

O filósofo Olavo de Carvalho expôs o mal do analfabetismo funcional. Fato: esse mal destrói a sociedade.

OPINIÃO

Luiz Carlos Cezar

4/20/20255 min read

O SENTIMENTO E O ANALFABETISMO FUNCIONAL

Outro dia compartilhei em alguns grupos de “WhatsApp” um simples texto que dizia: “Há 3 anos sem nosso professor”. Abaixo dessa frase estava a figura de um dos maiores filósofos brasileiros que já pisaram sobre esta terra. A esta imagem e a esse texto, alguns advogados, com o deboche típico daqueles que não haviam lido sequer um livro do filósofo, mas que, pela audição de críticas feitas por militantes enraivecidos dos pensamentos do autor, repetiam a tag colada no mestre: “terraplanismo e antivacina”.

Desse evento, algumas lições podemos tirar: a primeira é sobre aquele ambiente a que não devemos nos meter e reportar nossas ideias, pois o público ali presente é análogo aos “porcos que ganham pérolas”. A segunda, sobre a soberba e ignorância de falar sobre o que desconhecem. E, por fim, a terceira, a repetição servil e abjeta de ideias produzidas por outros sem que o repetidor tenha sequer a humildade de buscar conhecer a origem, a razão e objetivo daquilo que repete: uma típica conduta bovina, fato verificável na história da humanidade em todas as épocas e povos.

Antes de adentrarmos ponto a ponto ao que me proponho aqui, devo explicar o conceito dos dois objetos presentes no título deste breve artigo: o sentimento e o analfabetismo funcional. Aquele diz respeito aos estados afetivos existentes no homem, de situações experimentadas, captados pelos cinco sentidos externos, internalizados e que geram emoções tais como tristeza, raiva, ódio, alegria, medo, amor, esperança etc. Todo homem possui sentimentos e, quando ordenados, são utilizados para seu próprio crescimento intelectual, por exemplo, ou diante de situações que exijam ação. Animais irracionais não têm sentimentos.

Já analfabetismo funcional significa o fato de um ser humano, apesar de ter tido instrução formal educacional durante sua vida, sabendo ler e escrever, não consegue compreender corretamente o que uma imagem, um texto qualquer quer dizer e, sendo incapaz de compreender de maneira efetiva aquele texto, acaba por dar interpretação diversa do sentido real ali apresentado diante de si.

Essa pessoa compreende as letras, a palavra, a frase inteira, mas tem uma grande dificuldade de interpretação e aplicação rotineira do real significado daquela frase, falhando gravemente, por exemplo, em tarefas mais complexas que lhe exijam profundidade de leitura e compreensão. Além disso, o analfabeto funcional é ferido pelo texto e extravasa, sem qualquer sentido lógico, sentimentos que destoam totalmente do significado da frase ou da imagem, como é o caso daquele paradigma.

A pior forma de demonstrar ser um perfeito analfabeto funcional é a exteriorização de sentimentos descontrolados quando o indivíduo lê um simples texto de seis palavras com uma imagem de um velhinho escrevendo algo, e exprime raiva, medo, ódio, rancor ou qualquer outro sentimento desconexo da realidade, fundado naquilo que ouviu dizer. Ou seja, o indivíduo, advogado, em tese formado e centrado nas letras, ao que tudo indica foi como se tivesse sido tapeado no rosto ao ver tal imagem e tal frase, demonstrando ser um completo desequilibrado emocionalmente ou, como ensina o próprio professor, um perfeito analfabeto funcional.

O referido velhinho da imagem, em uma de suas milhares de aulas, afirmou: “o problema do analfabetismo funcional é calamitoso. O analfabeto funcional não entende o que lê, não entendendo, ele pode atribuir àquilo o sentido que ele deseja”. Diz ele que no Brasil há, mais ou menos, 70 milhões de analfabetos funcionais, e faz a pergunta: onde estão essas pessoas? São todos doutores, são médicos, advogados, juízes, deputados, senadores, ministros de Estado, jornalistas..., “tanto que as ideais que circulam a meu respeito são as ideias de analfabeto funcional”.

O filósofo expõe justamente o que ocorreu nesse caso concreto: alguns advogados, que repetindo ideias de terceiros, ideais que, no fundo, visam tão somente macular a imagem do professor, demonstraram também serem frutos da educação “paulo-freireana” enraizada neste país: fábrica de analfabetos funcionais, já que as escolas de hoje ensinam, em boa parte, somente ideologias, não ciências.

Pois bem, dito isso, entendamos o seguinte: o primeiro caso, sobre o ambiente em que estamos envolvidos, é salutar apartar-se, visto que de nada frutuoso dali se retirará, exceto por alguns que, no caso concreto em questão, são exceções ao presente caso e, portanto, merecem respeito. Se o ambiente não te proporciona crescimento intelectual, amizades sinceras e que visam elevar sua alma a questões mais profundas e importantes, tal ambiente deve ser desprezado, visto ser maléfico. É um tanto óbvio: se ando com bandidos, bandido sou, ainda que não tenha cometido crime algum, sou cúmplice, no mínimo, o que me torna um criminoso.

Sobre o segundo ponto, aplica-se perfeitamente ao fato aqui exposto: o indivíduo, não tendo lido uma breve linha do filósofo, faz julgamentos sobre sua pessoa baseado sabe-se lá em quê, mas com ar professoral, profere tolices: “terraplanista e anti-vacina”. Se perguntarmos quantos livros leu ou quantas aulas assistiu, o elemento com certeza não responderá porque simplesmente não leu e simplesmente não assistiu a nada produzido pelo mestre. Essa conduta também já foi muito criticada pelo professor em suas aulas, pois o brasileiro é dono dessa postura. Ou seja, desconhece o outro, mesmo assim julga-o, mostrando não o que o outro é, mas o que ele próprio é: ignorante e maldoso.

Por fim, o terceiro ponto revela ainda que brasileiro domina: a arte de repetir bobagens sem ao menos se debruçar sobre o que repete com o objetivo de buscar a verdade. Ora, tal postura não é apenas exclusividade brasileira, mas este ser é expert nessa “arte”. Contaminado pelas narrativas criadas em redações de jornais, o analfabeto funcional, preguiçoso que é, não teima em repetir difamações contra opositores políticos do momento: “terraplanista”, “guru do Bolsonaro”, “astrólogo”, “teórico da conspiração” e por aí vai. E não contente em difamar e ofender a imagem do “velhinho da Virgínia”, o repetidor contumaz de bobagens também reproduz as ofensas aos alunos do filósofo, chamando-os de “olavetes” com o desdém típico de uma prostituta ressentida.

O indivíduo engole aquilo publicado seja nos jornais, seja no noticiário e ao longo do dia faz ecoar por onde anda. Se vai à padaria dá um jeito de abordar alguém na fila do pão e comentar sobre o terraplanismo “defendido” pelo professor. Na cozinha da empresa, onde trabalha, bostejando no ouvido da zeladora, repete as mesmas bobagens ditas pela apresentadora de algum telejornal amante de dinheiro público. Ele tem que manter a narrativa, pois isso é o que o fará um justiceiro, um vencedor, um ótimo militante da “verdade e da ciência”. Até mesmo antes de adentrar o consultório médico para o exame da próstata, ele comenta com outro paciente as “extravagantes teorias da conspiração” anunciadas pelo “guru do Bolsonaro”. Eis um típico brasileiro ressentido forjado na inveja e na preguiça.

Eis o cenário atual: publicar uma imagem em grupo de WhatsApp formado por advogados é um perigo: o administrador deletará sua postagem e, no fim, os aplausos dos difamadores virão em formato de uma figurinha, postados por aqueles que desconhecem Olavo de Carvalho e o julgam como se fossem o mais íntimo dos amigos.