Pedro se foi...
Papa Francisco morreu. Um pai se foi, um pastor se foi, Pedro se foi encontrar com seu Criador e Julgador.


PEDRO SE FOI...
Hoje, 21 de abril de 2025, feriado nacional, uma notícia ecoou pelo mundo, mais pela urbe católica do que pela mundana: Papa Francisco morreu. Um pai se foi, um pastor se foi, Pedro se foi encontrar-se com seu Criador e Julgador.
CRIADOR. Tem-se que, de fato, nosso Senhor e Salvador, Criador do universo, tendo criado todas as criaturas materiais e espirituais, visíveis e invisíveis, exige para si o domínio sobre Seu reinado, não apenas sobre o reino celeste, que é próprio d´Ele, mas por toda a criação, em especial este mundo, dominado, lamentavelmente, pelo maligno, como Ele próprio disse: “já dominado pelo maligno”. Logo, se não temos um reinado de Cristo efetivo na Terra, não é por omissão d´Ele, pois n´Ele não há essa contingência, mas por absoluta culpa deste que escreve este texto e de todos os demais seres humanos passados, presentes e futuros: culpa nossa, nossa grande culpa, que, um dia, exigirá, por tal comportamento, um julgamento exemplar.
JULGADOR. Sendo o Rei do universo e criador amoroso de todas as coisas, mesmo não cessando de animar seu povo, com os dons do Espírito Santo e, muitas vezes, tais dons sendo rejeitados pelo homem, Ele, o Cristo Salvador, julga e, no momento da morte, julgará aquele que partiu tão logo ter partido. Logo, assim como todos, nosso Pedro terreno, ao partir, foi julgado pelo Criador do universo e pelo perfeito Julgador, Este, o mais justo que possa existir.
A este julgamento dizemos: julgamento particular. A alma, ao desprender-se do corpo, é julgada imediatamente pelo seu Criador e a Sua justiça é implacável. Ensina Santo Tomás, “Por isso, logo que a alma santa separa-se do corpo, realmente vê a Deus, que é a felicidade última como foi demonstrado”.[1] Nosso Pedro terreno, Papa Francisco, foi encontrar-se com Deus e assim desejamos que ele com Ele fique eternamente.
Nesta vida, vale de lágrimas, as contingências e corrupções próprias podem afastar o homem de Deus, mas também, claro, pode nos levar a Ele, e assim devemos desejar constantemente. Afinal, como escreveu o próprio Papa Franscisco, “Jesus pode trazer nossa vida ao coração de todos os homens e transformar qualquer situação, inclusive aquelas aparentemente sem esperança. Jesus pode transformar todas as situações!”[2]
Eis uma verdade eterna! De fato, eu costumo dizer, que auxiliado pela intercessão dos santos, dos anjos, de São José e, principalmente, da Virgem Santíssima, não há nada no mundo que não se resolva por um terço bem rezado. Isto ensino a meus catequizandos, pois é outra verdade eterna, passível de constatação para qualquer coração sincero.
Repito: não há nada na vida de qualquer pessoa que não se resolva por um terço bem rezado. E para que não haja dúvidas quanto a este enunciado, explico-me: tudo o que há no mundo e na vida do homem é passível de mudança (aquilo que a Filosofia chama de corrupção), ou seja, tudo muda, tudo passa e, nas palavras de Santa Tereza d´Ávila, só Deus não muda, isto, porque Ele é o primeiro motor imóvel, o que muda tudo e por nada e por ninguém é mudado.
Nosso Pedro Papa Francisco, ensinando a rezar, disse: “Só ao lado de Jesus, rezando e seguindo os seus passos é que encontramos clareza de visão e força para continuar caminhando”.[3]
Nesta vida há amostras de felicidades e tristezas. Sobre a felicidade, Papa Francisco, em sua obra “A felicidade nesta vida, uma meditação apaixonada sobre a existência terrena”, nos ensina várias coisas úteis ao dia a dia:
“Em uma época em que somos atraídos por tantas imagens falsas do que é a felicidade, corremos o risco de nos contentarmos com pouco, com uma ideia ‘pequena’ da vida. Aspirem a coisas grandes!”.[4]
“É tempo de coragem, mesmo que isso signifique não ter garantia de sucesso. É preciso ter coragem para lutar, não necessariamente para vencer; (...)”.[5]
“Sejam pessoas que cantam a vida, que cantam a fé. Isso é importante: não só recitar o Credo, recitar a fé, conhecer a fé, mas cantar a fé! Proclamar a fé e viver a fé com alegria chama-se “cantar a fé”. E não fui eu quem disso isso! Foi Santo Agostinho, há 1600 anos, quem disse: “cantar a fé”![6]
“Quem se fecha no próprio bem-estar não sabe o que é a esperança, só conhece a segurança relativa; quem se fecha na própria satisfação, quem se sente sempre à vontade, não conhece a esperança... Quem espera, ao contrário, são aqueles que experimentam cada dia a provação, a precariedade e o próprio limite.”[7]
“A nossa vida, com as suas alegrias e os seus sofrimentos, é única e singular, e se desenrola sob o olhar misericordioso de Deus.”[8]
Ele, Pedro na terra, nos ensinou muito e o que nos resta são duas coisas: agradecermos e rezarmos para a sua alma alcançar a salvação eterna.
Ainda, se tudo nesta vida é mutável, contingente, principalmente a vida do homem, como poderia inexistir algo de bom, gracioso e perfeitíssimo, que não pudesse modificar a vida do homem de tal modo a tal ponto que ele não pudesse alcançar o céu?
Tal compreensão é inaceitável, ora, digo: todas as coisas nesta vida, sendo modificáveis e passíveis de perda, se assim o são, por que não poderia haver algo que a impedisse, algo superior, belo, bom, justo e que move todas as coisas? Se houve um ato criador de tudo isso, esse mesmo agente que agiu um dia pode agir agora, constantemente, nessa vida.
Se pela manhã nosso humor é de um tipo, e à tarde já temos outro; se hoje temos saúde e amanhã já temos pneumonia; por que não haveria algo fixo, perfeito e bom para aperfeiçoar nosso corpo, em especial a alma? Se há um primeiro motor imóvel, que a partir dele tudo é mudado e ele próprio não muda, necessariamente Sua vontade e todos os seus atributos também são imutáveis.
Logo, há, também necessariamente, as coisas do Alto, do Céu, ofertadas por Deus, para nos salvar e fazer mudar a realidade atual a que estamos submetidos, e o santo rosário (terço também chamado) é a ferramenta que manifesto ser capaz de mudar a vida do homem.
O outro ponto da sentença acima é que quando me refiro a “um” terço, simplifico, pois quero dizer “um” terço constante, visto que no céu inexiste tempo. Ademais, rosários e rosários modificaram substancialmente os rumos da humanidade. Dúvidas? Só olhar para a vida de São Padre Pio de Pietrelcina, que não largava sua “arma” por nenhum instante. Logo, a récita desta ferramenta deve ser contínua e com fé.
Lembro-me do saudoso filósofo e professor brasileiro, Olavo de Carvalho, que na altura de uma aula, expôs: “Isto aí é mensagem de Nossa Senhora, não importa a sua religião, você pode ser protestante, budista, judeu..., o que você quiser... se tu não acredita, não tem importância nenhuma, reze o rosário, que você vai ver o que é o poder do rosário na tua vida...”[9] Ou seja, rezem o terço (rosário) todos os dias, não importa qual ideologia ou religião você defende, pois você vai acabar acreditando e tendo fé.
Olhando para nosso Pedro, que hoje se foi, o que nos consolar é sabermos que isto não é o fim e nem poderia ser, e este ciclo da vida terrena, para os que têm fé, sabendo da vida posterior, é tão somente uma etapa necessária para a vida eterna, isto que Santo Tomás remete como sendo “a perfeita sociedade dos desejos”[10], pois somente lá Deus pode saciar todos os desejos do homem, e o maior deles é tê-lo eternamente”.
Por fim, rezemos para que nosso Papa Francisco, ao se encontrar com seu Criador, tenha um julgamento de elogio, de aceitação pelo amor com que zelou por Seu rebanho, que lhe foi outorgado, conforme narrado por Santo Mateus[11].
Rezemos um terço pelo Papa.
[1] DE AQUINO, Santo Tomás. Suma Contra os Gentios. Campinas, SP: Ecclesiae, 2017. Tradução de Dom Odilão Moura, OSB.
[2] FRANCISCO, Papa. A felicidade nesta vida. São Paulo: Fontanar, 2018. Org.: Natale Benazzi.
[3] Idem, p.17.
[4] Idem, p.19.
[5] Idem, p.20.
[6] Idem, p.21.
[7] Idem, p.87.
[8] Idem, p.158.
[9] Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Vr2yEjaPAIw
[10] DE AQUINO, Santo Tomás. Expositio Symbolum Apostolorum. Rio de Janeiro: Editora Permanência, p.93, edição eletrônica. Tradução e notas de Dom Odilão Moura, OSB.
[11] Evangelho de São Mateus, 16, 18-19: “E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.