OS TRÊS ELEMENTOS DA REALIDADE
É muito comum ouvirmos longos discursos por aí, inflamados, repletos de belas palavras, cheios de grande entusiasmo..., Porém, sempre ou quase sempre, estão recheados de oxigênio e gás carbônico, ou seja, puro vento.
OS TRÊS ELEMENTOS DA REALIDADE
É muito comum ouvirmos longos discursos por aí, inflamados, repletos de belas palavras, cheios de grande entusiasmo — ao estilo de um verdadeiro templário, pronto para combater os invasores da Terra Santa. São discursos que, ao que tudo indica, elevam a alma e nos impulsionam à ação. Porém, sempre ou quase sempre, estão recheados de oxigênio e gás carbônico, ou seja, puro vento.
Refiro-me aos discursos que, apesar das maravilhosas palavras de ordem e da demonstração de uma eloquência triunfante, no fundo, não passam de vazio — do mais absoluto vazio. Não por causa das palavras em si, mas pelo referente a que elas se dirigem.
Talvez você tenha estudado na escola (talvez — pois, do jeito que o ensino está, há certas coisas que não convêm ao militante psolista ensinar em sala de aula) os elementos básicos da interpretação da realidade: signo, significado e referente. Essa trindade está em tudo o que vemos e que os demais sentidos externos captam no dia a dia.
Tais elementos dizem respeito à forma como podemos compreender os diversos símbolos que nos são expostos cotidianamente — e como podemos entender a realidade que nos cerca. Ora, as coisas que nos são mostradas são a própria realidade, que é um ente inescapável. A própria morte é uma realidade, ainda que intangível.
Pois bem, fica o leitor a se perguntar: qual a relação entre as palavras vazias do discurso de um político mentiroso — que, por azar, é presidente do país — e os três elementos acima apresentados? Digo: a relação é que você sempre será enganado se não compreender que aquele discurso vazio, inflamado, cheio de palavras floridas, no fundo, não possui o terceiro e mais importante elemento dos três: o referente. Mas antes, expliquemos o que são esses três elementos estudados na semiótica.
O signo é algo que nos remete a outro. É como uma ponte, uma base que nos faz chegar a algo que ele próprio aponta. Se vejo uma bandeira, tal bandeira representa algo: paz, vitória na Fórmula 1, ou a nação de um povo. Isto é um signo — que também pode ser um símbolo — mas “signo” é a categoria geral, que se divide em:
i) ícone (a foto de uma árvore é ícone da árvore);
ii) índice (a fumaça é índice do fogo);
iii) símbolo (o desenho de uma flecha transpassando um coração é símbolo de um amor ardente).
Um signo representa algo além de si mesmo. Se andando pela rua vejo escrito no muro “perdeu, mané”, entendo que esse signo representa algo que, inclusive, é carregado de intenção, poder, ameaça — num determinado contexto referencial.
Logo, numa visão escolástica, podemos afirmar que tudo o que existe é um signo do Criador. Ou seja, a própria realidade em si é um signo que possui significado e se refere a algo real, ainda que esse real não seja físico.
Em segundo plano temos o significado, que é a explicação daquele signo captado pelos sentidos. A bandeira branca, num conflito bélico, representa a intenção de paz. A bandeira hasteada a meio-mastro significa o luto. O “perdeu, mané”, dito por um mimado, significa a consumação de um ato e o escárnio a um povo. O desenho de um cavalo significa um animal.
Em outras palavras, o significado é a alma do signo. Quando alguém grita na rua “pega ladrão!”, você não pensa nas letras dessa frase, mas na situação em si. Quando lê a palavra “cachorro”, você não pensa nas letras ou nas sílabas, mas num animal de quatro patas, que late e tem cor. O significado é a explicação do signo. Quando vê um objeto desconhecido, a primeira pergunta que lhe ocorre é: “O que é isso?” — e a resposta a esta pergunta é o significado do signo. Este é o segundo elemento fundamental para compreender a realidade.
Por fim, chegamos ao referente — o objeto inexistente, verificável quase sempre nos discursos mentirosos de espécies como o fillo mollusca, ouvido diariamente nos meios televisivos recheados de dinheiro público: a imprensa do regime, no mainstream jornalístico nacional.
Um sapo desenhado numa folha é um signo, cujo significado é um animal classificado como anfíbio, que se alimenta de insetos. Se apenas se desenha um sapo e se explica o significado a uma criança, ela terá uma dimensão parcial da realidade — porque nunca viu, no mundo real, um sapo pular e comer insetos. No entanto, quando levo essa criança a um pântano e lá mostro um sapo real, ela descartará todas as imagens que criou em sua cabecinha e, ao vê-lo, saberá perfeitamente o que é um sapo: “Ah, isso é um sapo — e não o que eu pensava que fosse um sapo”, dirá a criança.
O referente é aquilo que existe ou existiu independentemente do signo. É algo que está ali, firme, real — é o objeto verdadeiro no mundo externo, que também é captado pelos sentidos e processado pelo intelecto. Ouvir um discurso sem o referente é como tocar bolhas de sabão: você vê, sente, mas no primeiro movimento ela espoca — porque não tem substância, não se refere à realidade. Ainda que a intenção do palestrante seja boa (e a benesse da dúvida deve ser oferecida àquele que demonstra boa-fé) e suas palavras sejam belas, se tais palavras não correspondem ao mundo real, de nada servem. Aliás, podem até servir para enganar, iludir, causar danos — ou, em certos contextos, para acalmar e apaziguar, se a intenção for reta.
Podemos citar o exemplo da pessoa que conforta o amigo cujo pai faleceu: “Deus o levou; ele está no céu.”
Ninguém pode afirmar com absoluta certeza qual foi o destino daquela alma, mas no contexto da morte, ouvir tais palavras pode trazer certo alento. E é necessário dizê-las — por força da caridade que se espera do outro.
Dito isso, qualquer discurso inflamado — pelas mais belas e perfeitas palavras que a língua possa oferecer — proferido por alguém que se diz protetor da liberdade, amante do povo, pai dos pobres e defensor da democracia, se não houver no mundo real um referente para isso, ou seja, se não existir um ato real que ligue o signo (as palavras), o significado (a explicação delas) e o referente (as ações reais que geram os efeitos prometidos), nada do que ele diga terá validade. Será, portanto, mero discurso retórico.
Ou seja: se não houver o referente, se não houver ato real ou realidade propriamente dita, o discurso será apenas vento. E vento, aqui, significa: a mais pura e absoluta mentira — típica dos políticos atuais e dos autoproclamados defensores da liberdade. Essa é a natureza desta era: a mentira, o engodo, a covardia.
O discurso será vazio porque não reflete a realidade. Não há referente. Não há nada, no mundo real, que represente aquilo que foi dito por quem discursa.
Ora, se o discurso é vazio, sua finalidade não é levar o ouvinte a agir conforme a realidade, mas cumprir outro propósito. Sendo vazio, não passa de barulho sem sentido, criado tão somente para inflamar os incautos — os tolos que, muitas vezes, são apenas ignorantes ou ingênuos, na melhor das hipóteses. A retórica pela retórica sempre deixa um ponto de interrogação na mente do ouvinte atento: “O que isso significa, mesmo?”
Percebam: a retórica sem substância não provoca no outro uma virada interior para a compreensão da realidade. Fica sempre na superficialidade, sem raízes, sem base sólida — e tudo o que não se sustenta na rocha, mas na areia, cai com o primeiro vento verdadeiro que sopra contra as paredes.
Um discurso meramente retórico é, no fim das contas, um incômodo na alma de quem ainda busca a verdade, e quem vive de buscar a verdade dificilmente cai em falsas promessas.
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Neste ensaio, exploramos a profunda visão de Santo Tomás de Aquino sobre os graus da vida e a geração em Deus. Partindo dos seres inanimados até a perfeição divina, revelam-se os distintos modos de emanação do ser, refletindo a beleza e a ordem da criação. O texto percorre desde a vida vegetativa das plantas, passando pela sensibilidade dos animais, até alcançar a vida intelectiva do homem, dos anjos e, por fim, a perfeição absoluta em Deus, onde intelecção e ser são idênticos. Uma meditação sobre a grandeza do Criador e a dignidade de suas criaturas — com precisão filosófica e clareza espiritual. (continua....)
O ADVOGADO E OS VÍCIOS CAPITAIS
Gula, avareza, luxúria, inveja, ira, preguiça e soberba — esses são os adversários internos, os “sete magníficos” da desordem humana, que, como ensina Santo Tomás de Aquino, não são meros atos, mas disposições da vontade que nos afastam do Bem supremo. Se há algo que o homem moderno domina com maestria, é a capacidade de escorregar nos próprios pés... (continua....)